domingo, 23 de outubro de 2011

Carlos, o gordo estupor...

... Vocês não conhecem o Carlos. Mas se o conhecessem iam com toda a certeza chamar-lhe "Carlos, o gordo estupor". Eu já não via o Carlos à uns bons anos. Desde o meu 6º ano quando, infelizmente, o Destino nos colocou na mesma turma. No 6º ano eu era uma miuda muito fixe. Usava aparelho e a minha mochila dos ursinhos combinava com o meu dossier dos ursinhos, com a caneta, o estojo, a borracha, o marcador, o afia, a lancheira, o guarda-chuva e tudo o que a loja do Pião vendesse daquela mesma colecção. Estão a ver o estilo? Pois bem. Somem a isso umas calças de ganga com corações cor-de-rosa brilhantes e têm a minha imagem. A Ritinha também se sentava sempre na primeira fila e era super boa aluna. E depois... Depois havia o Carlos, o primo da Cátia. Ele já era gordo mas, quanto a isso, eu não tinha problemas. Só passei a chamar-lhe gordo num tom verdadeiramente prejurativo quando ele decidiu que, a partir do primeiro periodo, a minha alcunha devia ser "corta-relvas". Corta-relvas?? Sim! Por causa do meu aparelho e dos elásticos verdes e castanhos e cor-de-laranja que eu havia escolhido e que tão bem ficavam com a mochila dos ursinhos. O meu Destino estava marcado. Até aí ao nono ano, altura em que mudei de escola, a alcunha "o corta-relvas" presseguiu-me e eu fiquei-lhe com um ódio de morte. Um ódio horrivel. Uma vontade de arranjar um mini-Carlos, o Gordo Estupor, e  praticar vudu. Pois bem. Hoje vi-o. Ao Carlos. Fui com a minha mãe ao supermercado e quando estendia o meu aipo e a minha alface roxa ao rapaz dos legumes que devia coloca-los na balança... A mão gorda que os agarra e que me pergunta: "é só isto?" é exactamente a mesma voz que anos antes me gritava "Oh Corta-relvassss!". O Carlos, o gordo estupor. Tantos anos depois. Ali, à minha frente, com a batinha branca do Intermarché, a olhar para mim. E a pedir-me os meus legumes e a perguntar se eu só levava aquilo. O que me apeteceu foi gritar-lhe: "Sim! É só isso! É só isso de legumes meu estupido que tantos anos a fio me chamou 'corta-relvas'. Pois ora fui cortar relvas para a faculdade e para o mestrado enquanto tu, meu pascalho, desperdiças-te o dinheiro dos teus pais com negativa após negativa. E não te deves ter tornado um bom ser humano. Porque um bom ser humano não goza assim com as pessoas. Como tu gozavas comigo. corta-relvas! corta-relvas, o tanas!". Enfim, limitei-me a dizer-lhe, "Sim, é só isto. Obrigada." e contentar-me com a expressão que ele me lançou... Deve ter pensado: "No que o corta-relvas se transformou!"... Tomara ele!!! Ele e todos os Carlos, gordos e estupores do mundo.  

2 comentários:

  1. Credo miúda... Tanta raiva contida e guardada durante anos!!!
    Deve ter sido engraçado a cara dele a olhar para ti como cliente e ele ali, como mera "pesa-legumes"... Essa profissão que em tanto contribui para a nossa sociedade!
    Quanto ao teu comentário, sim, é definitivamente umas das músicas que fazem parte da banda sonora da minha vida... Uma das!

    xoxo
    Lux

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  2. Estava mesmo a espera de um momento como este para descarregar a raiva toda xD Senhores!!! :P Mas sabia melhor se lhe tivesse respondido à letra!

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