quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sobre 'a minha primeira tempestade de 2011'

Não sei porquê. Mas ontem enquanto a chuva caia, e eu ia conduzindo pela cidade de Lisboa, no meio de tanto trânsito, ou por estradas quase desertas, a ver árvores caidas, pessoas apressadas, guardas-chuvas a voar, pessoas que paravam para observar o Tejo, um casal de namorados que passeava abraçado na chuva, a confusão... Nasceu uma melancolia aqui dentro. Não sei porquê mas os dias frios, os dias cinzentos, cheios de chuva, fazem-me sempre ter vontade de me enrolar em mim própria e ficar a observar o mundo. As pequenas coisas que vi, os pequenos pormenores, davam-me um sorriso. Vi uma menina a fotografar as ondas do Tejo, junto ao Terreiro do Paço. Fiquei a pensar como a fotografia devia ter ficado. Vi um rapaz correr e correr atrás de um chapéu que acabou estragado, enfiado no lixo. Vi um casal de meninos apaixonados, de mãos dadas, enrolados nos seus casacos, a correr na chuva. Vi pessoas que estavam ali, de frente para o Rio, como se não caisse uma única pinga do céu, como se fosse um dia de céu azul e sol brilhante. Vi as ondas grandes contra as colunas. Vi uma árvore gigante caida sobre a estrada, tal devia ser a fúria do céu. E, enquanto isso, o rádio fazia-me embalar por entre muitas músicas. Fui cantarolando as que conhecia. Fui observando e sorrindo. Aproveitei, também, para sorrir ao senhor do carro do lado. Ele retribuiu-me o sorriso mas com ar de quem já estava farto do trânsito da nossa Lisboa. Demorei mais de uma hora, costumo fazer este percursso em pouco mais que quarenta minutos. Não valia de nada irritar-me com o trânsito, porque não valia. E, por isso, talvez também porque era o primeiro dia de tempestade deste inverno, deixei-me ficar a observar, perdida em sentimentos. É certo que sorri. Também chorei. Chorei enquanto a Adele me sussurrava ao ouvido palavras que, para mim, nunca tinham feito tanto sentido. Chorei também porque vi onde tinha chegado e o que tinha alcançado... Sabem? Nunca tinha pensado que o dia em que realmente pudesse dar de caras com o facto de já ter deixado tanta coisa para trás, fosse um dia cinzento e cheio de chuva. Mas, de facto, foi. E eu não me importei nada.

3 comentários:

  1. Sabe tão bem não sabe? Adorei o texto, sem dúvida dos melhores! Continua :)

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  2. Sabes que às vezes perdida no meio do transito ou perdida no meio de mim também me absorvo nesses pensamentos e penso em tudo o que tem acontecido, o que tenho alcançado...

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